Somos todos Poeira de Estrelas

"... à exceção do hidrogênio, todos os átomos que compõem cada um de nós - o ferro no sangue, o cálcio nos ossos, o carbono no cérebro - foram fabricados em estrelas vermelhas gigantes a milhares de anos-luz no espaço e a bilhões de anos no tempo. Somos feitos, como gosto de dizer, de matéria estelar."
(Carl Sagan)


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Primeiro olhar de uma menina

Lá estava ela, pequena criança parada, olhando à sua frente, e com o descortinar de sua consciência, vendo o mundo como se fosse pela primeira vez, tal qual um viajante que acabou de aportar em terras por ele desconhecidas.
Naquele instante, nada tinha significado ou nomes. Sua face não expressava nenhuma emoção, nem sentimento e sua mente não fazia críticas ou comparações. Seus olhos se desvirginavam ao ver as paisagens que se estendiam até o horizonte. Nem de longe a menina imaginava que o que via era parte do cenário e do palco onde atuaria vivendo emoções, sentimentos, felicidade, prazeres, sonhos, traições, dores, angústias, tristezas. Logo a menina foi sentindo a necessidade de explorar aquele mundo recém-nascido. Então ela agachou-se, pegou uma pequena porção de terra úmida a que ficou manuseando com carinho e assim, com a natureza ela começou a exercitar suas emoções e sentimentos.
Olhando o céu, viajou grande distância buscando os limites do universo. E com os pés pousados firmemente no chão se perguntou: Quem será o criador de tudo isso?
Como isso foi feito?
Aos poucos, ela começou a atribuir valores a tudo o que estava a sua volta. Muito valia o céu noturno repleto de estrelas; a chuva e o vento que algumas vezes cantavam para ela dormir; a fruta que caia no chão e tinha um delicioso sabor; as pessoas que a acompanhavam.
Os brinquedos preferidos dela ficavam sempre espalhados por todos os lugares: As nuvens que deslizavam no céu e muitas vezes ganhavam formas, principalmente de pequenos animais; os pirilampos que cintilavam ao nascer da noite e com quem ela saltitava alegremente na tentativa de pegá-los e muitos outros.
Em seu viver, em um lindo dia a Morte apareceu tranqüila, digna, cheia de atitude, respeitável, sendo aceita sem lamúrias, sem interpelações e depois desapareceu por um longo tempo deixando no ar perfume de jasmim.
A cada instante a menina recebia lições da mestra Vida e ficava sempre muito atenta a tudo que acontecia à sua volta. Com o passar do tempo e com o aumento do número de pessoas com quem convivia descobriu que a Bondade não era solitária como ela pensava. A Bondade tinha uma companheira perigosa chamada Maldade. A Maldade não tinha uma face única e principalmente por isso, era de difícil identificação. Ela podia se alojar no íntimo de crianças ou adultos; era oportunista e costumava se apresentar sem hora marcada, sem motivos, camuflada ou explícita e desafiadora sempre agindo para enfear a vida. A menina intuiu então, que embora a contragosto, ela deveria aprender a conviver com as duas.
Após pequenos tropeços, a menina também percebeu que poderia haver grandes pedras pelos caminhos por onde passasse e que sempre deveria tentar ultrapassá-las para alcançar seus sonhos.
Gilnea Rangel